José Paulo Wainer consegue ver, de longe, ao menos um aspecto “menos pior” da tragédia que o deixou morando, desde o início da semana passada, em uma barraca improvisada na estrada que liga Porto Alegre ao município vizinho de Eldorado do Sul:
— Muitas casas desapareceram com o mar de lama. A minha, não. Ela só virou de lado.
A frase tem muitas leituras possíveis. Wainer, de 54 anos, enfrenta o frio com um chinelo de dedos, short de náilon, jaqueta leve e boné branco. Ele acredita que, quando a água baixar, iniciará um trabalho duro de limpeza e voltará a viver em sua casa, que colocará de pé novamente.
Nem com o repique do Guaíba que aumentou o nível da água e a frente fria que jogou as temperaturas para 8 graus, cogitou ir viver em um abrigo. Da barraca ao lado, vigia a “casa que só virou de lado”, para evitar saques de posses, objetos e memórias que lá ficaram. E que ele também crê poder recuperar quando as águas partirem.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/5/r/GPIcHnQGWyw19jWFfXgA/106949435-edilson-dantas-o-globobrasil-porto-alegre-rs-12-05-2024-as-chuvas-forte-que-atin.jpg)
