Record vem ao Acre e lança documentário com entrevistas polêmicas de autoridades e ex-faccionados sobre o crime

O documentário Fronteira do Pó, feito pela Rede Record de TV, em seu serviço de streaming Play Plus, trouxe um panorama sobre os impactos do tráfico de drogas na tríplice fronteira, onde o estado do Acre, Bolívia e Peru se encontram.

Ex-membros das duas maiores facções do estado abordaram como eram suas atividades e outros assuntos relacionados ao tráfico de drogas, desde sua iniciação, até mesmo sobre rebeliões em presídios acreanos.

“Tivemos a chegada do comando vermelho em 2013 e do PCC ainda em 2011. Presidiários do Francisco de Oliveira Conde resolveram replicar a metodologia e criar uma facção local, conhecida como Bonde dos 13”, contextualiza o promotor de justiça Bernardo Albano.

“Um ex-drogado, ex-matador, ex-Comando Vermelho”, é assim que se identifica um deles, que foi condenado a 23 anos de prisão.

“As primeiras organizações criminosas surgiram em presídios de segurança máxima. Quando eu entrei pro Comando Vermelho foi em um presídio entre 2015 e 2016”, revela ele, dizendo que foi o primeiro integrante da facção a realizar assassinatos em seu nome.

Estipula-se que o CV, como é popularmente conhecido o Comando Vermelho, tenha 12 mil homens e 2 mil mulheres, tendo chegado ao estado há pouco mais de 10 anos, em 2013.

O homem conta histórias sobre sua época de faccionado/Foto: Reprodução/RecordTV

Uma das ex-lideranças do Bonde dos 13, facção rival, também falou com a produção da TV Record. “Foi formado por 13 lideranças diferentes, no começo, 90% do presídio (Francisco de Oliveira Conde) era formado por membros do B13”, revela.

O paradigma de poder entre os dois grupos criminosos começou a se inverter, quando Jorge Rafaat, grande liderança do PCC, que era aliado ao B13 no estado, morreu em uma emboscada, em 2016.

O membro do CV afirma que participou do estopim para a “guerra” entre as facções no estado, quando, aos 17 anos. “Entrei na casa dele, dei um tiro na nuca, queria sair rápido, então peguei uma faca na sua casa e risquei um C e um V no peito dele”.

Ele ainda afirma que, após este momento, as tomadas de território dentro da cidade começaram.

“Chegávamos em um bairro, matava um matava outro, queimava as casas e já ganhando território, foi assim que começou tudo, e aí saiu comando pra ter rebelião no Acre”, explica ele sobre o início do período de conflitos e sobre rebeliões que ocorreram na época.

Já o integrante do B13 afirma que a vida dentro da prisão é sempre imprevisível sendo membro de uma facção. “Você dorme do lado do inimigo, hoje eu sei qual é o risco. Tem pessoas que dormem junto com você, dentro da sua cela, só pra lhe matar. Risco de ser envenenado, risco de ir para o banho de sol e morrer”.

Membro do B13 fala sobre ter que dormir com seu potencial assassino/Foto: Reprodução/RecordTV

Marcos Lindoso, um dos fundadores do B13, conhecido como Dragão, foi decapitado e teve seu coração arrancado durante uma rebelião em um presídio de segurança máxima no estado do Acre.

Um ex-faccionado, que ficou preso durante sete anos e estava presente na rebelião, conta sobre como ocorreu a situação, pelo ponto de vista daqueles que estavam dentro do presídio.

“Foi uma cena muito triste. Quando aconteceu aquela guerra, estava todo mundo misturado, aí quando veio o comando que era pra atirar, aí foi nessa ordem que o que estiver nos prédios era pra matar, era pra invadir o pavilhão e então aconteceu a rebelião”, explicou

O desembargador Raimundo Nonato conta que a forma como as situações se desenrolam neste ambiente são diferentes do mundo real.

“No sistema penitenciário é outro mundo, um mundo à parte, com violência extrema em que cada setor do sistema penitenciário é dominado por alguém, com poder, seja o de vender coisas lá dentro, de autorizar visitas, então tudo lá é fatiado e tudo lá é pago”, conta ele.

O desembargador afirma que a guerra contra as drogas tem sido um dos fracassos do poder público/ Foto: Reprodução/RecordTV

A rebelião relatada pelo ex-faccionado resultou na transferência de Deibson Nascimento e Rogério Mendonça, para presídio de segurança máxima em Mossoró, que viriam a realizar uma fuga que durou 50 dias.

Por fim, Nonato fala que temer o poder que este estado paralelo vem tomando é sim plausível, e que isto precisa ser tratado com muito cuidado e seriedade.

“Esse temor de que o estado paralelo passe a atuar quase com a mesma força do estado institucional é um temor que temos que pensar muito seriamente nele porque estamos vivenciando um momento em que essas organizações criminosas têm um poder muito grande e estão se aparelhando para criar este estado paralelo”.

Para assistir o documentário completo, acesse o link da Play Plus

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